Da cultura do preço para a cultura do apreço. Essa é a mudança que agricultores orgânicos e co-agricultores adeptos do Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA) buscam no consumo sustentável de frutas, verduras e legumes
O movimento é uma parceria entre agricultores e consumidores, na qual responsabilidades, riscos e benefícios da agricultura passam a ser compartilhados e os consumidores se tornam co-agricultores.
“Quando ficamos doentes, precisamos de remédio, médico e hospital. Mas e se a nossa relação tão próxima com farmacêuticos e médicos passasse a ser próxima com quem produz os alimentos que consumimos? Se cuidássemos da saúde em vez da doença? Alimentar-se de forma saudável, sem agrotóxicos, nenhum tipo de conservante e ainda contribuir para no sustento de quem tanto é colocado à margem: o agricultor familiar. Esse é o grande objetivo do CSA. Fazer a transformação social e ambiental da boca para dentro”, explica Vinícius Pereira, técnico do WWF-Brasil que apoia o projeto no Distrito Federal desde a implantação das primeiras comunidades no Pipiripau, em 2016.
O funcionamento do CSA é simples: por meio de uma cota fixa mensal, os co-agricultores recebem uma caixa semanal ou quinzenal de produtos agrícolas, como frutas, verduras, legumes, ovos, leite e o que mais estiver combinado com seu agricultor. Tudo de acordo com a estação e com a safra do período, respeitando os tempos da natureza e também do produtor. Agricultores recebem uma renda mais estável e segura, além de uma conexão mais próxima com sua comunidade, enquanto os co-agricultores (antigos consumidores) se beneficiam com alimentos locais frescos, saudáveis e sustentáveis, sentindo-se mais conectados à natureza.
Ao todo, existem hoje cerca de 100 CSAs no Brasil, sendo 24 delas localizadas no DF, onde atua o Programa Água Brasil, parceria entre Banco do Brasil, WWF-Brasil, Agência Nacional de Águas e Fundação Banco do Brasil. Por meio de trabalhos de incentivo à produção sustentável nas bacias do Pipiripau e Descoberto, localizadas no DF, o programa apoia a criação e manutenção das CSA.
Durante a primeira fase do programa, entre 2010 e 2015, 10 unidades demonstrativas de boas práticas agrícolas foram implantadas na Bacia do Pipiripau (DF). Dessas, seis propriedades se uniram para criação da Associação dos Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu (Aprospera) que, por sua vez, criou as CSAs da região, com o apoio do Sebrae, da Matres Ambiental e do ISPN.
“A transição de um modelo convencional para a CSA é como quebrar paradigmas da sociedade, transformar e criar uma nova realidade por meio do alimento, fortalecendo as relações de confiança. Esse modelo de consumo é muito promissor como tecnologia social de transformação, aliando, unindo produtores e co-produtores na mesma causa, em busca de uma alimentação saudável, respeitando o meio ambiente, dando mais dignidade e auto-estima ao agricultor, trabalhando as relações com a terra e com as pessoas e criando uma nova maneira de se relacionar com o mundo… CSA é uma economia solidária e associativa que transforma a nossa relação de consumo”, explica Diogo Kaiser, beneficiário do Programa e agricultor da CSA Pé na Terra, localizada na Bacia do Pipiripau.
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