Integrante da bancada ruralista, Colatto foi convidado para assumir o posto pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
O deputado Valdir Colatto (MDB-SC) confirmou por telefone ao G1 que aceitou o convite da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para assumir o comando do Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
Integrante da Frente Parlamentar Agropecuária do Congresso, conhecida como a bancada ruralista, Colatto não se reelegeu em outubro e já fez discursos críticos ao percentual de terra que deve ser preservado por fazendeiros.
Colatto disse que já comunicou a ministra da Agricultura da decisão de aceitar o convite e afirmou que será um “grande desafio” assumir o cargo. Ele deve tomar posse em fevereiro.
Segundo Colatto, está prevista uma reunião na tarde desta quinta-feira com a ministra Tereza Cristina e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para discutir o trabalho do SFB e como ele pode ser dividido entre as duas pastas.
Mudança de ministério
Com a reestruturação ministerial, após a posse do presidente Jair Bolsonaro, o SFB, criado em 2006, foi transferido do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O órgão tem entre suas funções a recuperação da vegetação nativa e recomposição florestal, a proposição de planos de produção sustentável e o apoio aos processos de concessão florestal.
Cobertura florestal
Em 7 de fevereiro do ano passado, Colatto fez um discurso no qual criticou o percentual de preservação de terra nas fazendas.
“No Brasil, 20,5% da área das propriedades são de florestas. O agricultor paga essa conta sem que haja nenhum dividendo com a cidade. Quem é que deixa 20%, 35% ou 40% da sua propriedade, na área urbana, para a preservação do meio ambiente? Só a agricultura brasileira faz isso”, afirmou o deputado na ocasião.
Em outro discurso, em 11 de dezembro do ano passado, o novo chefe do Serviço Florestal Brasileiro disse que “66% das florestas no Brasil não são nada”.
Afirmou, ainda, que o Brasil precisa “refletir” sobre as atuais regras de preservação.
“Nós temos que pensar que 66% das florestas no Brasil não são nada se compararmos com as da Europa, que não chegam a ter 0,5% de floresta. E eles ainda querem dizer o que devemos fazer aqui? Ora, se quiserem que mantenhamos nossas florestas, que nos paguem com serviços ambientais, como fazem os Estados Unidos e a Europa, onde quem preserva a floresta recebe por isso”, declarou.
Dados contestados
O engenheiro florestal Tasso Rezende de Azevedo, coordenador do MapBioma e ex-diretor do Serviço Brasileiro Florestal, afirma que a cobertura florestal da Europa é muito maior do que 0,5% e, em alguns países, como Finlândia, passa de 70%. “O mundo todo tem 4 bilhões de hectares de floresta. Ao todo, 3 bilhões são florestas temperadas, ou seja, Europa, Rússia, EUA e Canadá.” De acordo com um relatório do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), de 2017, as florestas ocupavam quase 42% das terras dos países da UE.
A cobertura de vegetação no Brasil é de pelo menos 67% do território, sendo 63% de florestas e 4% de vegetação nativa, como os campos gaúchos, segundo o MapBioma, o maior levantamento sobre o assunto já feito no país, que abarca o período de 1985 a 2017. Segundo Tasso Azevedo, quando se considera apenas a vegetação preservada (aquilo que era floresta em 1985 e não sofreu alteração até 2017), a cobertura passa para 48% do território brasileiro. Este número não considera áreas, por exemplo, que foram desmatadas e abandonadas, mas onde a vegetação voltou a crescer.
Responsável pela primeira estruturação do Serviço Florestal, Azevedo criticou a escolha de Valdir Colatto para o cargo. “O Serviço Florestal foi criado para ser uma organização técnica, de alta capacidade técnica. Todos os dirigentes e funcionários, desde sua criação, em 2006, têm que ter alta capacidade técnica. Foi assim com todos os dirigentes. Se fazia comitê de busca para buscar os melhores profissionais. O que é o espanto é a gente ter abandonado isso num governo que diz que quer ter gente técnica para trabalhar.”
Antes de aceitar o cargo, Colatto afirmou saber que o órgão é estratégico, o que exige conhecimento técnico especifico. “Primeiro, eu também sou um técnico. Engenheiro agrônomo. Conheço muito bem a área ambiental. Pratico meio ambiente de resultado e não de discurso. Fui autor do projeto do código florestal brasileiro, aprovado pelo Congresso”, disse ele ao blog de Matheus Leitão.
FONTE: G1