William Nordhaus é pioneiro do modelo que integra a economia de mercado e mudança no clima
Economia e ecologia reconciliadas pelo Prêmio Nobel? A honraria anunciada nesta segunda-feira (8) em Estocolmo reflete, de qualquer forma, a relação cada vez mais estreita entre a mudança do clima e a pesquisa econômica de alto nível.
A Academia Real de Ciências da Suécia, ao premiar os americanos William Nordhaus e Paul Romer com o “prêmio do Banco da Suécia para as ciências econômicas, em memória de Alfred Nobel”, recompensou trabalhos que ampliaram de maneira significativa o campo da análise econômica, construindo modelos que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e a inovação.
William Nordhaus, especialmente, é considerado um pioneiro do modelo que integra a mudança no clima. Ele construiu equações que permitem dar conta dos efeitos do meio ambiente sobre a economia, e vice-versa.
O economista também é fervoroso partidário de que os governos apliquem um sistema de tributação às emissões de carbono.
Ainda que a premiação, que coincide com um novo alerta divulgado pelos especialistas em clima da ONU (IPCC), tenha um eco particular, a verdade é que os economistas sempre se interessaram pela natureza, se bem sua visão tenha evoluído com o passar dos séculos.
No século 18, os fisiocratas, precursores da ciência econômica moderna, não defendiam a preservação dos recursos naturais, ao estudar a produção agrícola francesa. Para eles, a terra, a natureza, constituíam recursos que era preciso explorar ao máximo.
Um pouco mais tarde, o pastor anglicano Thomas Malthus foi um dos primeiros a levar em conta o caráter limitado das terras agrícolas, o que o levou a advogar o controle da natalidade.
Mas foi principalmente no século 20, com a revolução industrial e a multiplicação das fábricas, que os economistas começaram a se interessar pelo meio ambiente.
Com isso, na década de 1920 nasceu o princípio do contaminador/pagador, no trabalho do economista britânico Arthur Cecil Pigou.
Pigou considerava a contaminação como uma externalidade negativa, um custo para a sociedade como um todo, e segundo ele era necessário corrigi-lo por meio de um imposto sobre as empresas responsáveis, a fim de garantir o bom funcionamento da economia de mercado.
CERTA RESISTÊNCIA
A partir da década de 1970, foi desenvolvido um enfoque mais global e mais crítico sobre a relação entre o crescimento econômico e o meio ambiente.
Essa visão levou ao “Relatório Brundtland”, divulgado em 1987 sob os auspícios da ONU, que reconhece a ideia de desenvolvimento sustentável: a busca de um crescimento econômico mais justo e mais respeitoso para com o meio ambiente.
Depois disso, já não se pensava mais na natureza apenas em nível de empresas e consumidores, em termos de “custo” ou “benefício”. A mudança do clima passou a ser levada em conta no estudo das grandes forças econômicas, através de equações complexas e teorias sofisticadas.
O economista Joseph Stiglitz, ganhador do Nobel em 2001, defende já há anos, por exemplo, que o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) seja revisado de forma a integrar melhor o impacto do crescimento econômico sobre a natureza.
“Houve certa resistência […] da parte do público que tinha preocupações ambientais e que considerava que tratá-las com enfoque econômico era uma heresia”, explicou Mireille Chiroleu Assouline, professora da Universidade de Paris I (Sorbonne) e vice-presidente da Federação Francesa de Economistas e Meio Ambiente.
“Falar de valor da natureza costuma ser sempre compreendido, por exemplo. Mas é uma maneira de relacionar o problema à vida econômica”, ela afirma.
FONTE: Folha de São Paulo
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