Retirada de documentos do site do MMA prejudica trabalho de gestão ambiental no país

Retirada de documentos do site do MMA prejudica trabalho de gestão ambiental no país

De acordo com as informações apuradas pelo portal Direto da Ciência e tornadas públicas na última semana, a direção do Ministério do Meio Ambiente (MMA) deu ordem para fazer a remoção completa dos mapas e demais informações relacionadas às Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação, à Utilização Sustentável e a Repartição dos Benefícios da Biodiversidade. O conteúdo foi removido do site do Ministério há cerca de um mês e ainda não foi republicado. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, estes dados e informações passariam por uma revisão e seriam novamente disponibilizados.

Foram removidas também reportagens produzidas pela comunicação do MMA. A assessoria de imprensa do Ministério foi procurada pelo portal, porém não se manifestou. Nos últimos anos, lideranças empresariais vinham atuando para reverter decretos e outras normas federais sobre esse instrumento de política pública, que dá suporte técnico para criação de unidades de conservação, licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, fiscalização e outras ações de gestão ambiental.

 

ENTENDA O CASO

Entre as entidades empresariais contrárias às diretrizes das Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação está o Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE). No dia 24 de abril, aproveitando a recente decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de rever decretos, portarias e outras normas federais, a presidência dessa associação enviou ao MMA uma carta ao ministro Ricardo Salles  solicitando  a revogação do Decreto nº 5.092/2004 – que define regras para identificação das Áreas Prioritárias para a Conservação – e suas portarias, e também a revisão do Decreto nº 8.437/2015, que estabelece os tipos de empreendimentos e atividades cujo licenciamento ambiental compete à União.

O documento ressalta que o Brasil já tem 30% de seu território ocupado por unidades de conservação e áreas indígenas e quilombolas e aponta também percentuais maiores atribuídos à Embrapa Territorial. “Essa realidade, somada à atualização dos citados Mapas com as Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, prejudicará em muito a implantação e operação de empreendimentos e atividades necessárias ao desenvolvimento do país”, afirma a carta.

Moraes, que também é vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), não respondeu às tentativas de contato da reportagem, inclusive a recado deixado com a secretaria do FMASE.

Em seu questionamento ao MMA, a reportagem perguntou também sobre a posição do órgão sobre o pedido do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico e sobre se o ministério já havia realizado tratativas com a entidade referentes ao tema. Não houve resposta.

 FALTA DE TRANSPARÊNCIA

“O governo tem obrigação de manter públicos seus dados. Especialmente aqueles que mostram as diferentes demandas sobre o território. O Mapa das Áreas e Prioritárias para a Conservação indica enormes riquezas dos brasileiros que devem ser consideradas antes de serem destruídas”, afirmou a engenheira agrônoma Maria Cecília Wey de Brito, que foi secretária nacional de Biodiversidade de 2007 a 2010. “Não ter essas informações disponíveis como sempre foram é deixar a população refém de decisões que não se sabe ao certo como foram tomadas. Transparência é a base da democracia”, acrescentou.

A remoção dos dados também foi criticada pelo geólogo Claudio Maretti, presidente do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de 2015 a 2016: “Onde estão essas informações? Quais as políticas que esse Ministério do Meio Ambiente prepara para sua implementação?”, questionou. “Se é verdade que se escondem essas informações, isso seria um tipo de crime ambiental por analogia, por impedir a conservação dos ecossistemas e espécies ameaçados”, afirmou Maretti, que permaneceu até janeiro deste ano como diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação do ICMBio. “É importante não esquecer que a natureza é patrimônio dos brasileiros e da humanidade”, acrescentou.

Estabelecidos em 2004 com base em recomendações da Convenção sobre a Diversidade Biológica das Nações Unidas, os mapas e demais informações das Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação foram organizados com a participação de órgãos públicos das áreas de recursos naturais e também de universidades e demais instituições de pesquisa, além de organizações não governamentais.

O acervo passou por duas reavaliações e atualizações. A primeira foi iniciada em 2006 e concluída em 2007, e a segunda foi iniciada em 2016 e concluída em 2018. Todas essas informações, que foram produzidas com suporte de recursos públicos, estavam armazenadas no subdomínio http://areasprioritarias.mma.gov.br, agora inacessível. Grande parte desse conteúdo que estava disponível em 11 de janeiro deste ano ainda pode ser consultado no repositório Archive.org.

 

A VISÃO DO SERVIDOR

Para Raquel Souza Mendes, bióloga e analista ambiental na Diretoria de Estratégia em Fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad), a retirada das informações sobre as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade do site do Ministério do Meio Ambiente trará grandes complicações para a gestão ambiental do país.  “Isto porque são áreas que possuem espécies endêmicas, ecossistemas diferenciados e imprescindíveis para manutenção de serviços ambientais”, explica.

Mendes, que é filiada ao Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais (Sindsema), afirma que estas informações apoiam decisões técnicas ligadas aos órgãos ambientais, visando a preservação e recuperação de áreas degradadas. Além disso, integram a base de dados que orientam ações para a utilização sustentável dos recursos naturais e gestão de impactos refletindo diretamente no dia a dia de toda a sociedade.

“Os dados são necessárias para direcionar ações que irão refletir em nossa alimentação (indicando as melhores áreas para implantação de agroflorestas e/ou uso agropecuário), em nossa saúde (indicando as florestas ainda viáveis para pesquisa e manejo de plantas medicinais), em nosso bem-estar (indicando os sistemas fluviais que disponibilizam água em quantidade e qualidade para sobrevivência, pesca, energia e lazer, além de áreas verdes visando regulação da temperatura) e em nossa sobrevivência (áreas com potencial para mitigar cheias, descontrole de epidemias como a dengue e desastres naturais)”, enumera.

 

Com informações do portal Direto da Ciência

 

 

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