Foi publicado no último mês de junho, na revista Biotrópicos, o artigo científico sobre áreas regeneradas de cerrado e mamíferos no Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no Território Norte de Minas Gerais. A pesquisa é fruto de uma parceria entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Instituto Biotrópicos e teve como objetivo avaliar a importância de áreas regeneradas de cerrado para a conservação de mamíferos de grande porte.
O estudo realizado na unidade de conservação, no município de Cônego Marinho, contou com a instalação de câmeras automáticas para o registro de animais em dois ambientes diferentes: na vegetação de cerrado regenerada após desmatamento e na vegetação de cerrado maduro, que não sofreu impactos significativos nas últimas quatro décadas. Durante a realização da pesquisa foram registradas 18 espécies de mamíferos de grande porte, incluindo espécies raras como o queixada e o cachorro-do-mato-vinagre.
Guilherme Braga Ferreira, biólogo e doutorando afiliado a duas organizações britânicas, University College London e Zoológical Society of London, além de pesquisador do Instituto Biotrópicos, ONG conservacionista de Minas Gerais, disse que “a escolha dessa área de conservação foi ideal para testar hipóteses sobre regeneração de cerrado e vegetação secundária, onde, quase um terço das áreas onde a vegetação de cerrado está situada era plantio de eucalipto, entretanto, a regeneração ocorreu naturalmente, após o abandono da área e a criação do Parque Estadual Veredas do Peruaçu”, disse.
O pesquisar frisa, ainda, que “apesar de estar bem estabelecido que áreas regeneradas de florestas desempenham um importante papel na conservação da biodiversidade, até então, não existiam estudos avaliando a importância de áreas regeneradas de cerrado para fauna de mamíferos”.
O pesquisador avalia que o cerrado tem grande poder de regeneração, dessa forma, as “áreas regeneradas de cerrado vão representar uma parte importante do bioma no futuro. Isso significa que é importante saber qual o papel que estas áreas podem desempenhar na conservação de espécies animais”.
Guilherme Braga ressaltou que os resultados da pesquisa feita no Parque Veredas do Peruaçu indicam que áreas de cerrado que foram desmatadas e posteriormente se regeneraram, podem sim abrigar espécies ameaçadas de extinção. “Isso foi observado no Veredas do Peruaçu. Observamos também que animais ameaçados de extinção em nível mundial como o tamanduá-bandeira e o gato-do-mato-pequeno, utilizam estas áreas, que foram completamente desmatadas no passado e regeneradas depois”, afirmou.
Ele afirmou ainda que o resultado dessa pesquisa tem consequência direta para que diversas espécies, inclusive as ameaçadas de extinção, utilizem a vegetação regenerada da mesma forma que utilizam o cerrado mais maduro. “O estudo evidencia que estas áreas podem se tornar importantes ambientes para mamíferos ameaçados como o lobo-guará, a anta e o tamanduá-bandeira”, disse.
O resultado tem implicações para as extensas áreas de cerrado no norte de Minas, que foram desmatadas para o plantio de eucalipto no passado e hoje, encontram-se em estágio inicial de regeneração. “Isso não quer dizer que todo cerrado que já foi desmatado poderá abrigar espécies raras no futuro. Iniciativas como a proteção da vegetação que está se recuperando, o controle de queimadas e a existência de animais silvestres nas proximidades são necessários para que a área em regeneração se transforme em habitat favorável à biodiversidade”, concluiu.
Parque Estadual Veredas do Peruaçu
O Parque Estadual Veredas do Peruaçu foi criado pelo Decreto nº 36.070, de 27 de setembro de 1994, com área de 30.702 hectares. A área abriga um complexo de veredas e lagoas, formando um ambiente de textura argilosa. Destaca-se a vereda do Peruaçu, que dá origem ao nome da unidade de conservação (significa ‘gruta grande’), com seus 37 quilômetros de comprimento, com palmeiras e burtis de até 20 metros de altura. Outras veredas de menor extensão também são encontradas no parque como a Comprida, dos Lopes, da Lagoa Azul, da Passagem, da Cruz entre outras. A unidade de conservação abriga, ainda, seis lagoas: Jatobá, dos Patos, do Meio, Junco, Carrasco e do Jacaré.
Há mais de 250 pássaros catalogados no interior do parque, entre eles está a ‘maritaca’, o ‘quem-quem’ e aves endêmicas do entorno, como o ‘sebinho de fronte vermelha’, a ‘maria-preta’ e o ‘arapaçu do rio São Francisco’.
Fonte: Ascom Sisema
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