Ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão diz “não vai ter como governo resistir à pressão nacional e internacional”
DE ECOA, EM SÃO PAULO – 20/9/2020
Mais de três milhões de hectares já foram queimados na região do Pantanal desde julho deste ano. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), essa é a maior tragédia causada pelo fogo na região. O Instituto também levantou outro alerta: durante o começo desse mês até a última segunda-feira (14) a Amazônia registrou mais focos de queimada do que todo o mês de setembro de 2019 — são 20.486 este ano e 19.925 no mês passado.
“Apesar do governo Bolsonaro, tem muitos grupos atuando na defesa do nosso meio ambiente, da Amazônia. Eu acredito que essa pressão nacional e internacional vai ter efeito, não vai ter como o governo resistir a isso. Vai chegar um momento que ele não vai poder ficar mais só nas palavras. Eu espero que ele mude. E tem uma coisa que eu acho que o governo Bolsonaro não vai fazer, mas deveria, que é exonerar o Ricardo Salles imediatamente. E escolher um ministro que pudesse fazer um trabalho muito melhor para o país”, opina o físico e engenheiro Ricardo Galvão, diretor do Inpe entre 2016 e 2019.
O Inpe é o principal responsável por monitorar e produzir dados sobre as queimadas em biomas brasileiros. Galvão foi exonerado do cargo ao defender a credibilidade do monitoramento realizado pelo Instituto — que trouxe a informação do aumento em 88% no desmatamento da Amazônia — após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vir a público afirmar que eram mentirosos. Bolsonaro, inclusive, chegou a acusar Galvão de estar “a serviço de alguma ONG”.
No mesmo ano, porém, o físico foi eleito pela consagrada revista científica “Nature” como um dos 10 cientistas que se destacaram em 2019. Agora, de volta à profissão que exerce desde a década de 1970, é professor do curso de pós-graduação em Física da USP (Universidade de São Paulo).
Nesta semana, Ricardo Galvão conversou com Ecoa sobre as queimadas que o país vem enfrentando há décadas e que nas últimas semanas tem destruído o Pantanal. Abordou também o trabalho do Inpe na divulgação de dados e produção científica que, para ele, transformou o país em um dos protagonistas quando o assunto era monitoramento e ações efetivas contra o desmatamento.
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