Para controlar casos e mortes, seria necessário imunizar 90% dos cidadãos; infectologistas lembram que cada dia sem vacina significa milhares de mortes
Por LETÍCIA FONTES E RAFAELA MANSUR
02/02/21 – 03h00
Se mantiver o ritmo atual de vacinação contra a Covid-19, Minas Gerais pode levar em torno de cinco anos e dois meses para imunizar toda a população contra a doença. De acordo com o Canal Vacina Minas, do governo do Estado, até ontem, 15 dias após o início das aplicações, 167.827 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina, uma média de 11.188 por dia. Com essa velocidade, todos os 21,2 milhões de mineiros — incluindo os menores de 18 anos, que, por enquanto, estão fora do plano de imunização — só estariam protegidos em 2026.
Em Belo Horizonte, a perspectiva é um pouco melhor: a aplicação dos imunizantes seria concluída daqui a um ano e dez meses, considerando o ritmo atual. O cenário preocupa especialistas, uma vez que a celeridade do processo é essencial para o controle da pandemia.
De acordo com o imunologista Anthony Fauci, líder da força-tarefa americana de resposta à pandemia, para controlar o número de casos e mortes pela Covid-19, é preciso vacinar pelo menos 90% da população. No Brasil, até o momento, apenas 0,98% dos habitantes foram imunizados, segundo o banco de dados do Our World in Data, o que corresponde a 2,08 milhões de pessoas. Para imunizar toda a população, seriam necessários um pouco mais de quatro anos.
Até mesmo no maior Estado do país, o processo é lento: mantido o ritmo atual, São Paulo levaria quatro anos e sete meses para vacinar os mais de 46,2 milhões de habitantes. Até a tarde de ontem, 442.224 haviam sido imunizadas.
Para especialistas, o número de vacinados está bem aquém da capacidade do sistema de saúde. Na avaliação da professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), Ana Paula Fernandes, as consecutivas falhas do Ministério da Saúde, a falta de planejamento e as falhas de comunicação entre União e municípios são alguns dos fatores que contribuem para o atraso.
“O Brasil tem condição de acelerar esse processo, em termos de disponibilidade de logística e mobilização nós somos referências no mundo, a questão é a desorganização do governo. A lição que fica é que não dá para repetir futuramente os erros de agora. Nós temos capacidade para produzir e desenvolver uma vacina no Brasil e agora poderíamos estar protegendo nossa população e exportando, como a China e a Índia. Estamos pagando caro pela falta de investimentos”, afirma.
O infectologista Leandro Curi diz que cada dia sem vacina significa milhares de mortes a mais. “Infelizmente, a vacinação no Brasil deixou de ser saúde e virou guerra, disputa política. A ciência produziu em um ano várias vacinas, um recorde histórico, quem não conseguiu se organizar e acompanhar foram os governos”, avalia o especialista, destacando a importância de todos se vacinarem. “O importante é: quando chegar sua vez na fila de vacinação, vacine-se, não importa com qual (imunizante). Vacina é um pacto social”, conclui.
Na última semana, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, informou em entrevista a O TEMPO que as negociações com o laboratório americano Covaxx para a aquisição de uma nova vacina contra a Covid-19 têm avançado, mas não há prazos estabelecidos. A intenção é que o governo mineiro compre 50 milhões de doses e as disponibilize ao Ministério da Saúde. Amaral afirmou, ainda, que, caso não haja atraso no repasse de doses pela pasta federal, todas as 275 mil pessoas pertencentes aos primeiros grupos prioritários do Estado devem ser vacinadas até maio. Neste mês, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a dizer que a imunização dos mineiros pode demorar até um ano.
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) declarou que os dados de vacinação dependem da divulgação dos balanços das secretarias municipais de saúde. De acordo com a SES, o governo está reforçando junto aos gestores municipais a importância de manter o sistema de informação em constante atualização nas planilhas.
Sobre a vacinação dos grupos prioritários, a pasta afirmou que segue as orientações do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Para esta primeira fase da campanha de imunização, estão sendo priorizados os profissionais de saúde na linha de frente, pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas, pessoas com deficiência maiores de 18 anos institucionalizadas e população indígena aldeada.
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que faz parte do plano nacional de imunização e não estuda, no momento, comprar vacinas à parte. Sobre o ritmo da vacinação na capital, o município destacou que depende do envio das doses por parte do governo federal.
Já o governo federal destacou que está empenhado, junto com os demais governadores, em combater a Covid-19, garantindo a vacinação a todo brasileiro.
Vacinação em Minas Gerais
População de Minas: 21.292.666 habitantes
167.827 pessoas já foram vacinadas
Média de 11.188 pessoas vacinadas por dia
1.903 dias é o tempo necessário para imunizar toda a população considerando o ritmo de vacinação atual
5 anos e 2 meses para vacinar toda a população
Para onde foram as vacinas em Minas
Doses enviadas aos municípios: 496.160
Trabalhadores da saúde: 153.444
Idosos em instituições de longa permanência: 10.894
Pessoas com deficiência em residências inclusivas: 853
População indígena residente em terras indígenas: 2.636
Vacinação em Belo Horizonte
População de BH: 2.521.564 habitantes
55.669 pessoas já foram vacinadas
Média de 3.711 pessoas vacinadas por dia
679 dias é o tempo necessário para imunizar toda a população considerando o ritmo de vacinação atual
1 ano e dez meses para vacinar toda a população
Municípios que mais vacinaram
1) Belo Horizonte: 53.698 pessoas
2) Montes Claros: 6.336 pessoas
3) Juiz de Fora: 6.062 pessoas
4) Divinópolis: 2.966 pessoas
5) Betim: 2.850 pessoas
6) Ipatinga: 2.843 pessoas
7) Muriaé: 2.608 pessoas
8) Barbacena: 2.559 pessoas
9) Nova Lima: 2.436 pessoas
10) Patos de Minas: 2.277 pessoas
Fonte: Secretária de Estado de Saúde (SES) e Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE)