Renova atua no cercamento e preservação de nascentes em áreas impactadas pelo rompimento da Barragem do Fundão. Objetivo é devolver qualidade à água do Rio Doce
A lama e os rejeitos de mineração despejados no Rio Doce pela Samarco passaram a 30 quilômetros da fazenda do senhor Marcos Jacob, mas há terrenos a até 100 quilômetros de distância do rio devastado recebendo os mesmos trabalhos de preservação de nascentes, como ocorre no município de Itambacuri. “Esse é um trabalho que visa ajudar a devolver água em quantidade e qualidade melhores para os afluentes que compõem o Rio Doce”, disse Almir Jacomelli, líder de operações agroflorestais da Fundação Renova.
O programa de cercamento, reflorestamento e manutenção de nascentes da fundação visa atender a 5 mil surgências em 10 anos. Desde sua implementação, em 2016, já foram beneficiadas 1.050 nascentes em 12 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo. “Pode parecer pouco ante a grandeza do Rio Doce e de suas 350 mil nascentes, mas a ideia é também mudar essa cultura local, muito ligada ao extrativismo, para uma de mais preservação e sustentabilidade”, disse o analista de programas socioambientais da Fundação Renova, Felipe Drummond. O programa de nascentes atuará em 420 propriedades. Já foram gastos R$ 15 milhões de um total estimado de R$ 300 milhões. Cada propriedade terá uma média de investimentos de R$ 40 mil a R$ 60 mil.
As microbacias beneficiadas são determinadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Doce (CBH-Doce), que seleciona estrategicamente aquelas mais degradadas ou de maior contribuição para o rio. “Vamos até os produtores dessas regiões procurar saber quem se interessa. Damos incentivo para cercar a nascente e plantamos mudas nativas. Com isso, o gado para de pisotear a nascente, reduzimos a erosão e o ingresso de sedimentos para lá, aumentando a retenção de água na área de recarga que abastece o olho d’água”, disse Jacomelli. Até o momento, foram utilizadas 140 mil mudas, sendo que a previsão é de que se chegue a 1 milhão.
O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, matando 19 pessoas, atingindo aproximadamente 500 mil pessoas e devastando a bacia hidrográfica do Rio Doce, até o litoral brasileiro, nessa que é considerada a pior tragédia socioambiental brasileira e uma das piores do mundo.
“Fui subindo o córrego e descobri que muita gente, inclusive uma mineradora, não pararam de puxar a água nem com essa seca”, conta o fazendeiro, que foi obrigado a construir barragens com sacos de areia no leito seco e arenoso para manter empoçamentos durante a estiagem. Mas nem essa solução garantiu o abastecimento da propriedade. “A minha esperança é mesmo cuidar das nascentes que estão bem aqui na minha propriedade. Isso daqui é tudo que tenho para sustentar a minha família”, disse. O produtor ainda foi atingido diretamente pela tragédia. “Moro em Valadares e até hoje só bebo água mineral. Na água das torneiras ninguém mais confia depois que desceu aquela lama contaminada”, afirma.
FONTE: Estado de Minas