Olavo Henrique, trabalhador da mina há mais de 35 anos, contou ao filho que foi procurado por responsáveis pela segurança do local. Juiz diz que detidos ficaram “inertes” ao relato de Olavo e aos alertas técnicos.
Um funcionário apontado como um dos mais antigos da Vale em Brumadinho relatou ter sido procurado, “7 ou 8 meses” antes da tragédia, para avaliar um ponto de vazamento de lama. Ele disse que alertou diretamente aos responsáveis da área, incluindo um dos 8 presos nesta sexta-feira (15), que “era para tirar todo o pessoal” do local porque a estrutura “estava condenada e não tinha mais conserto”.
A declaração foi dada por Olavo Henrique ao filho Luciano Henrique Barbosa Coelho. Foi Luciano – que trabalha há 16 anos na Vale, quem prestou depoimento ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MP-MG), contando os relatos do pai, que trabalha na Mina Córrego do Feijão há mais de 35 anos.
Segundo texto da decisão, o filho disse que “o pai tinha experiência prática e, por isso, embora não tenha tido estudo, era muito solicitado por todos os gerentes, já que seu pai era referência em infraestrutura em questão de barragem”. Luciano também relatou que “grande parte dos funcionários que lá trabalhavam sabiam que a barragem tinha problemas”.
Essas declarações aos promotores fazem parte das justificativas usadas pelo juiz Rodrigo Heleno Chaves na decisão que determinou a prisão temporária de oito funcionários da Vale. Nela, o afirmou que os oito funcionários da Vale “tinham pleno conhecimento da situação de instabilidade da barragem B1” e ficaram “inertes”.
Além deste depoimento, o juiz cita relatórios técnicos e trocas de e-mails entre os funcionários da Vale e da empresa TÜV SÜD.
Entre os presos da mineradora, de acordo com o MP, estão quatro gerentes (dois deles, executivos) e quatro integrantes de áreas técnicas:
- Alexandre de Paula Campanha
- Artur Bastos Ribeiro
- Cristina Heloíza da Silva Malheiros
- Felipe Figueiredo Rocha
- Hélio Márcio Lopes da Cerqueira
- Joaquim Pedro de Toledo
- Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo
- Renzo Albieri Guimarães Carvalho
Urgência no conserto
De acordo com o relato do filho ao MP, três funcionários da Vale, entre eles Cristina Malheiros, estiveram com Olavo Henrique na barragem “porque estava brotando lama no talude”. Aos responsáveis, ele disse que a situação não teria solução nem se fosse água brotando, e com resíduos ela ficava ainda mais grave.
“Os chefes, técnicos e gerentes presentes disseram que não poderiam tirar o pessoal de lá porque é muita gente envolvida e empregos, dizendo que iriam contratar empresa especializada de urgência para consertar a barragem I”, informa trecho do depoimento de Luciano ao Ministério Público, que foi citado na decisão.
Medidas não iniciadas
Washington Pireti, também funcionário da empresa, prestou depoimento ao MP-MG e relatou que “no primeiro semestre do ano de 2018 foi constatado um problema adicional na estrutura da barragem em razão da instalação” de drenos. Ele disse que apenas no final do ano passado um projeto foi pensado para descomissionamento, mas que isso exigiria um esforço na estrutura.
Tais medidas, no entanto, não chegaram a ser implementadas e a execução do projeto ficou para os meses de junho e julho de 2019. Todos os fatos ocorridos em 2018 foram reportados para Joaquim Toledo, gerente-executivo da Vale e um dos presos nesta sexta-feira.
Washington é autor de uma dissertação de mestrado defendida em 2010 na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Em sua conclusão, o estudo afirmava que os rejeitos presentes na estrutura constituem materiais que tendem a exibir “susceptibilidade potencial a mecanismos de liquefação”.
O estudo também conclui que “em função de alguns procedimentos operacionais inadequados realizados nesta barragem”, diretrizes eram “recomendadas para aumentar a segurança”.
FONTE: G1