Um recado forte, inquestionável, baseado em números reais colhidos em instituições sérias, será dado hoje (4) em Katowice, na Polônia, aos representantes dos 194 países que estão debatendo sobre um novo paradigma civilizatório para enfrentar os riscos trazidos pelas mudanças climáticas na COP24. O recado há de alcançar também os céticos do clima, que parece terem se multiplicado depois que Donald Trump e outros líderes decidiram se contrapor à ciência e se negarem a aceitar as evidências. É o seguinte: ao todo, em 2017, 11.500 pessoas morreram por causa de eventos climáticos extremos. E os prejuízos ficaram em US$ 375 bilhões (calculado em paridade de poder e compra).
Os dados acima fazem parte de um relatório volumoso chamado Índice Global de Risco Climático, divulgado pela organização alemã Germanwatch com base no banco de dados NatCatSERVICE da empresa de resseguros Munich Re, bem como nos dados socioeconômicos do Fundo Monetário Internacional (FMI). É a 14ª edição do relatório e, na comparação com o estudo publicado ano passado, muita coisa piorou. O Brasil subiu dez posições no ranking dos mais impactados, passando para o 79º lugar. Portugal também subiu dez casas, agora está quase entre os dez que mais sofrem com tempestades, furacões, tufões, secas. E os Estados Unidos tiveram a maior mudança: passaram da 28ª para a 12ª posição.
Principal autor do estudo, David Eckstein falou durante a apresentação, lembrando que as tempestades foram muito mais fortes do que nunca e causaram impactos desastrosos:
“Em 2017, Porto Rico e Dominica foram atingidos por Maria, um dos furacões que mais causaram mortes e prejuízos já registrados. Porto Rico ocupa o primeiro do ranking dos países mais afetados por eventos climáticos em 2017, com a Dominica em terceiro lugar. Nepal, Peru e Vietnam também estão entre os primeiros, seguidos por Madagascar, Serra Leoa, Bangladesh e Tailândia”.
O estudo também foi feito considerando os últimos vinte anos. Neste caso, o número de mortos sobe para mais de 526 mil pessoas em 11.500 eventos extremos que causaram um impacto econômico de US$ 3,47 trilhões. Os maiores danos foram provocados por tempestades e suas implicações diretas – enchentes, deslizamentos de terra. E é clara, segundo os estudos científicos, a ligação entre mudanças do clima e furacões, tempestades e toda a tragédia que cerca tais fenômenos.
Estudos científicos recentes encontraram uma clara ligação entre mudanças do clima e furacões. E também sugerem que o número de tempestades tropicais severas vai aumentar com cada décimo a mais na temperatura do planeta. Se o aquecimento ficar entre 1,5 ou 2 graus (como prevê o Acordo de Paris), espera-se, verdadeiramente, que o número total de ciclones tropicais diminua.
Sendo assim, o melhor que se tem a fazer é preparar as cidades, o meio rural, para as tempestades de maneira a que elas causem menos danos às pessoas. O relatório sugere algumas práticas, como a construção de plantios flutuantes em Bangladesh e a plantação de árvores de mangue, que tem dado certo em Porto Rico. Em outubro deste ano foi criada a Comissão Global de Adaptação, com 17 países, sob a coordenação da líder da COP24 e CEO do Banco Mundial, Kristalina Georgieva, e de Ban Ki-moon, ex-secretário-geral da ONU. A ideia é lançar, em outubro de 2019, uma linha de ação.
Dos dez países mais afetados entre 1998 e 2017, oito são países emergentes, no grupo dos mais pobres. São eles: Honduras, Myanmar, Haiti, Filipinas, Nicarágua, Bangladesh, Paquistão, Vietnam e Dominica. Interessante observar que quando o ranking é feito entre 1997 e 2016, há uma mudança no primeiro lugar. É que a devastação feita pelo furacão Maria elevou Porto Rico ao primeiro colocado no ranking dos mais atingidos, enquanto Dominica fica em décimo lugar.
O relatório chama a atenção para o fato de que as perdas financeiras quando eventos extremos atingem os países ricos são maiores e há muito mais mortes quando atingem os países pobres. E, como se vê na reportagem do jornal britânico “The Guardian” escrita pela jornalista e ativista ambiental Naomi Klein, até hoje Porto Rico ainda tenta se reerguer da tragédia provocada pelo furacão em suas terras.
A jornalista mostra com clareza uma outra face, a política, dos desastres provocados pelas mudanças climáticas.
Será crucial – diz o Índice que aponta a vulnerabilidade de cada um dos 194 países das Nações Unidas – que o Livro de Regras da COP24 faça forte menção às perdas e danos provocados pelos eventos extremos. São riscos muito severos para, simplesmente, serem usados na hora da negociação. É preciso estar escrito e é preciso que os métodos de adaptação, como previsto no ODS 13 (Tomar Medidas Urgentes para Combater a Mudança Climática e seus impactos) sejam postos em prática.
FONTE: G1