Tobias Geiger, do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático, comenta a relação do furacão Florence e do tufão Mangkhut com o aquecimento global e suas consequências econômicas.
Inundações, rajadas de vento, quedas de energia: o furacão Florence já começou a ser sentido na costa leste dos Estados Unidos, sobretudo nas Carolinas do Sul e do Norte. Enquanto isso, do outro lado do planeta, o tufão Mangkhut se move em direção às Filipinas a uma velocidade de até 225 quilômetros por hora. Em entrevista à DW, Tobias Geiger, especialista do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático, comenta como a mudança climática está aumentando a incidência de eventos extremos no planeta.
DW Brasil: Em 2017, os furacões Harvey, Irma e Maria causaram grandes prejuízos. Somente em Porto Rico, cerca de três mil pessoas foram mortas direta ou indiretamente. Estamos lidando neste ano novamente com uma temporada de furacões particularmente ativa?
Tobias Geiger: Sim. A atividade de uma estação é medida não apenas pelo número de tempestades que realmente atingem a costa, mas também pela quantidade de energia de ciclones tropicais que foi gerada em todo o oceano. Em 2018, já foi produzida mais energia no hemisfério norte do que em todo o ano de 2017.
Ou seja, temos mais atividade, mas neste ano foi deslocada: especialmente o Oceano Pacífico oriental entre México e Havaí tem visto uma atividade muito forte, mas também o Pacífico ocidental no sudeste e no leste da Ásia.
Até poucos dias atrás, o Atlântico estava bem moderado. Para as próximas semanas devem predominar ondulações de ventos mais fortes, por isso ficará bastante tranquilo em relação a furacões assim que a atividade atual diminuir. Mais ainda não se sabe.
O furacão Florence teve uma cobertura midiática incrível nos últimos dias. Mas o Mangkhut é uma tempestade extremamente forte em comparação com o Florence. É interessante observar como o foco pela proximidade geográfica é colocado nos EUA e no Atlântico e, desta forma, perde-se de vista eventos que ocorrem em outra parte do mundo – alguns deles mais dramáticos.
Faz parte de sua área lidar com as consequências econômicas da mudança climática e de fenômenos climáticos extremos. Quão cara será a atual temporada de furacões?
Temos que aguardar, porque ainda faltam dois meses. Em 2017, os ciclones tropicais causaram 80 bilhões de dólares em danos – um recorde. Ainda estou cético se o ano de 2018 atingirá ou ultrapassará esta marca. Acredito que as estimativas de perdas vão disparar nos próximos meses e que podem novamente causar dezenas de bilhões de dólares de danos, mas não tem como estabelecer agora.
Quais fatores ambientais favorecem os ciclones tropicais?
Existem três fatores que devem ser atendidos. Precisa-se de altas temperaturas suficientes no mar, o que geralmente é cumprido em grandes partes dos trópicos no verão. Também se precisa de pouca alternância de ventos, isto é, diferentes direções ou velocidades do vento em diferentes altitudes na atmosfera.
Com uma torção baixa do vento, um ciclone tropical pode ser criado, caso contrário, será rasgado em pedaços pelo chamado cisalhamento do vento. Além disso, deve haver umidade suficiente na atmosfera, de modo que, quando ocorrem tempestades, surjam áreas de baixa pressão que aumentem continuamente. E, claro, estes fatores são afetados pela mudança climática.
Mapa mostra trajetória prevista para o furacão Florence — Foto: Infografia: Roberta Jaworski
De que maneira?
Por um lado, as temperaturas do mar estão subindo devido às mudanças climáticas. Quando estas estão altas o suficiente, as tempestades podem acumular energia também em longas distâncias e causar danos.
Ao mesmo tempo, a região também está mudando. Existem muitas áreas que estão no limite dessas temperaturas. Nestas zonas podem ocorrer ciclones tropicais nas próximas décadas. Isso significa que, mesmo no Atlântico Norte, tais tempestades podem ocorrer, o que também afeta regiões que antes eram pouco ou nunca afetadas.
Em relação aos cisalhamentos de ventos, ainda não se sabe ao certo como estes se desenvolvem com a mudança climática – existem apenas teorias. No geral, esperamos por quantidades maiores e mais fortes de tempestades sob a mudança climática.
De acordo com um estudo americano publicado em junho, os ciclones tropicais estão desacelerando, o que leva a mais chuvas e danos causados por tempestades. Quais são outras tendências de longo prazo?
Basicamente, tais eventos causarão mais danos no futuro. Cada vez se constrói mais casas em áreas de risco. Na Carolina do Norte, por exemplo, há um desconhecimento em relação à mudança climática e ao aumento do nível do mar. Simplesmente realiza-se projetos de construção em ilhas que serão afetadas mais frequentemente por esses eventos nas próximas décadas. Temos as tempestades mais fortes, temos o aumento do nível do mar e temos a imprudência ou os interesses econômicos levam à construção de casas na costa ou nas áreas vulneráveis. Tudo isso junto, obviamente, leva a um aumento no prejuízo.