Segundo a Fapemig, não há dinheiro para as pesquisas por causa da crise financeira enfrentada pelo governo de Minas.
Os 28 projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), ligados à recuperação da Bacia do Rio Doce, estão parados por falta de verba. O edital foi aberto em 2016, meses depois do “mar de lama” provocado pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, destruir distritos, afetar cidades e poluir as águas.
Dezenove pessoas morreram na tragédia. A barragem pertence à mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton.
Entre as propostas aprovadas estão a reconstrução dos distritos por meio de tecnologias sociais, estudo de impactos nas escolas no campo, monitoramento químico do Rio Doce e remoção de arsênio e manganês da água para uso humano e animal. O valor total do edital é de R$ 4 milhões.
A Fapemig liberou parte dos recursos, referentes a uma primeira parcela. Porém, o restante não tem previsão de chegar até os pesquisadores já que a Secretaria de Estado da Fazenda (SEF) não aprovou o envio da verba.
“Diante das dificuldades financeiras do estado, o Comitê de Fluxo Financeiro da SEF não liberou para a Fapemig recursos suficientes para pagamento do valor total de R$ R$1.925.292,48, referente a 2ª parcela da chamada”, diz a nota da fundação.
“O estado está em dívida conosco. Os projetos estão parados. A gente sente que não há um compromisso do estado com as vítimas”, disse a professora Andréa Luisa Zhouri Laschefski, coordenadora do projeto “O Desastre e a Política das Afetações: Compreensão e Mobilização em um Contexto de Crise”.
O estudo avalia as ações das mineradoras, instituições e poder público para gerenciar as reparações socioambientais e socioeconômicas.
“Nós fizemos um trabalho intenso em Mariana. O projeto também compreende Barra Longa, mas a verba ainda não chegou”, contou a pesquisadora.
O professor Ricardo Fiorotti, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), desistiu de levar seu projeto adiante porque não foi possível levantar o dinheiro requisitado. A proposta pretendia usar o rejeito de minério de ferro na produção de cimento.
“Eu tive uma verba aprovada. Mas, no entanto, a proposta que eu fiz sofreu um corte na execução. A comissão avaliadora propôs um valor que era o terço do necessário. Aí eu preferi não seguir adiante”, contou o pesquisador.
“A ideia era criar ferramentas para que as comunidades pudessem se organizar. Pudessem desenvolver atividades da construção civil por meio de blocos de alvenaria. Que pudessem usar o desastre para resgatar a economia. É uma pena”, lamentou.