Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas verifica situação de barragens entre Ouro Preto e Jequitibá. Receio é que material tóxico atinja manancial e prejudique abastecimento
Levantamentos sobre as barragens das cidades ao longo do Alto Velhas estão sendo realizados pela área técnica do comitê, que é responsável pelas outorgas e barramentos. “Temos uma preocupação muito grande, como já anunciamos, com algumas barragens. Diferentemente do Paraopeba, que tem captação de água em represas e reservatórios, no Velhas se dá por meio de fio d’água. Então, caso aconteça algo semelhante como em Brumadinho, seria preciso interromper o abastecimento na região metropolitana. Lembrando que na Grande BH é feito meio a meio entre o Sistema Paraopeba e o Rio das Velhas”, pontuou Marcus Vinícius Polignano, presidente do CBH Rio das Velhas.
“A barragem da Mundo Mineração, em Rio Acima, é uma mina antiga de ouro que foi abandonada. Está literalmente abandonada. Lá tem uma represa onde há uma concentração altíssima de metais pesados, inclusive o cianeto. Então, temos uma preocupação grande quanto ao destino final desta barragem, pois é potencialmente muito delicada”, afirmou Polignano.
A operação ainda se encontra na fase preliminar. Ainda está sendo feito, pela equipe técnica do Comitê, um estudo das barragens que se encontram em Ouro Preto e Jequitibá. “O grupo já tem reunião agendada a partir de semana que vem para discutir e traçar todo o processo de trabalho. Queremos agilizar o processo ao máximo para que possamos, de alguma forma, estar atentos a situação que se encontra no Velhas. Quero dizer que não é obrigação efetiva fazer isso, que é um papel efetivo do estado e do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), mas como a gente tem essa preocupação de responsabilidade de gestão da bacia hidrográfica, não podemos nos fazer omisso. É hora de exatamente ir atrás de respostas, e é isso que estamos fazendo”, concluiu o presidente do Comitê Rio das Velhas.
RIO PARAOPEBA Os 12 milhões de rejeitos de minério que desceram da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, atingiram o Rio Paraopeba. Desde do dia seguinte a tragédia, a análise estão sendo feitas em 10 pontos de coleta distribuídos ao longo de 300 quilômetros, entre município e Felixlândia. Foram encontrados valores até 21 vezes acima do aceitável de chumbo total e mercúrio total. Também foi constatada a presença de níquel, cádmio e zinco. Diante dessa situação, o Governo de Minas desaconselha o uso da água para qualquer finalidade até que a situação esteja normalizada. A recomendação vai desde a confluência do manancial com o Córrego Ferro-Carvão até Pará de Minas.
A Vale instalou barreiras para tentar impedir o avanço da lama pelo Rio Paraopeba. A terceira membrana de contenção entrou em operação na terça-feira em Pará de Minas. Outras duas barreiras foram colocadas no último fim de semana. A iniciativa é uma medida preventiva e faz parte do plano apresentado pela empresa mineradora ao Ministério Público e aos órgãos ambientais.
Barragem de Bocaiuva começa a ser esvaziada
Uma barragem localizada no distrito de Engenheiro Dolabela, em Bocaiuva, no Norte de Minas Gerais, começa a ser esvaziada para reduzir o risco de colapso. Uma reunião realizada na terça-feira na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) debateu a situação da Barragem da Caatinga. A estrutura tem capacidade para armazenar 23 milhões de metros cúbicos de água. A represa cruza o assentamento Betinho, o maior do estado, onde 760 famílias vivem apreensivas desde 2017, quando foram registrados problemas no local.
Na época, uma estrutura de concreto chegou a ser arrastada durante um temporal e o Comitê da Bacia Hidrográfica da região aprovou documento alertando sobre “o risco de morte iminente das famílias assentadas” e o “desabastecimento do distrito de Engenheiro Dolabela”.
Procurado pela reportagem, o Incra informou que a decisão “pelo descomissionamento total da barragem” foi deliberada pelo Comitê de Decisão Regional do órgão em Minas. Informou ainda que, “por ora, a primeira medida tomada foi a abertura total da comporta para a diminuição gradual do nível de água, com consequente diminuição do risco apontado, inicialmente, pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Jequitaí e do Pacuí”.
O Incra diz que vem realizando uma “série de reuniões com entidades relacionadas à estrutura para definir as próximas ações a respeito”. O encontro de terça-feira contou com representantes do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Bocaiuva, com vereadores e outras autoridades do município.
Esporte prejudicado
Tomado pela lama de minério de ferro, restos de construção e de natureza morta, o trecho o Rio Paraopeba que recebe as águas do Córrego do Feijão era reduto de praticantes da canoagem. A combinação das pedras com curvas sinuosas oferecia condições favoráveis para iniciantes, que se aventuravam com caiaques nas corredeiras sepultadas pelos rejeitos da barragem (foto) da Vale em Brumadinho, na Grande BH. O monitoramento Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), do terceiro trimestre de 2018, apontou que foi encontrado no Rio Paraopeba Índice de Qualidade da Água (IQA) “muito ruim”. “Essa condição é favorecida principalmente pelo lançamento de grandes quantidades de esgotos domésticos e efluentes industriais nos corpos de água”, explica o relatório.