O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a primeira-dama Michelle Bolsonaro participam da abertura da exposição das roupas usadas na posse, em 2019 (Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)
Jamil Chade
Colunista do UOL
10/12/2020 19h05
Numa das piores derrotas diplomáticas desde o início de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro não foi colocado na lista provisória de quase 80 chefes de Estado e de governo que participarão neste final de semana de uma cúpula do clima, organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), França, Reino Unido, Itália e Chile.
O Itamaraty ainda busca uma solução para a crise política e, extraoficialmente, a chancelaria ainda aposta na inclusão do Brasil no evento. Para o governo, a situação não é definitiva e a esperança é que exista espaço para reverter.
A reunião virtual tem como meta marcar os cinco anos do Acordo de Paris. Mas os organizadores optaram por transformar o evento num marco dos compromissos dos governos e já preparar a cúpula de 2021, em Glasgow (Escócia). A condição para que um líder participe é que ele apresente novas e “ambiciosas” metas de redução de emissões ou de preservação da floresta.
Caso não houvesse nada para anunciar, a recomendação era que o governo deveria evitar a participação.
O governo brasileiro, em meados da semana, apresentou suas metas de emissões para o ano de 2060 e submeteu seus planos para a ONU. Os objetivos foram considerados como inferiores ao que se esperava do Brasil. Entre os organizadores da cúpula, o entendimento foi que tais metas não eram suficientes para incluir o país na lista de participantes.
Numa primeira lista de oradores revelada nesta quinta-feira, os organizadores não colocaram o Brasil. A diplomacia nega que a ausência esteja confirmada e indica que estará presente.
Estados Unidos e Rússia também ficam fora da lista
Procurado, o Palácio do Planalto não se pronunciou e orientou a reportagem a buscar o Itamaraty. Nos bastidores, a coluna apurou que o governo tenta convencer os organizadores de que as metas são reais e que, portanto, o Brasil deveria ser incluído.
A lista, porém, traz algumas das principais economias do mundo: China, Europa, Japão, Canadá e Índia. Rússia e Estados Unidos não fazem parte da lista preliminar.
Na América Latina, estão confirmados países como Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Guatemala, Honduras, Panamá, Peru e Uruguai.
Postura de Bolsonaro, de ataque a nações, conta na avaliação, dizem negociadores
Ao longo dos últimos meses, Bolsonaro e seus ministros têm usado reuniões internacionais para atacar países estrangeiros, e raramente para apresentar projetos concretos sobre o que tem feito parar frear o desmatamento.
Tal postura, segundo revelam negociadores na ONU, não será bem-vindo na próxima cúpula. O desmatamento no Brasil colocou o governo de Jair Bolsonaro numa saia-justa inédita e numa encruzilhada internacional.
Em recente discurso nesta semana, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, mandou mensagens cifradas para Brasília. “Alguns países estão usando a crise para desmontar proteções ambientais”, alertou. No primeiro semestre, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, indicou que o governo deveria usar o momento da pandemia para “passar a boiada” no que se refere à desregulamentação.
Guterres também chamou a atenção de países que estão “expandindo a exploração de recursos naturais e desfazendo ambições climáticas”.