Mar de lama avançou sobre casas na área rural da cidade. Duas vítimas foram resgatadas por helicóptero.
Uma barragem da mineradora Vale se rompeu nesta sexta-feira (25), em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Imagens aéreas mostram que um mar de lama destruiu casas da região do Córrego do Feijão. Dois homens feridos chegaram, por volta das 15h, de helicóptero, ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Não há informações sobre o estado de saúde deles.
A Vale informou que o rompimento ocorreu no início da tarde de hoje, na Mina Feijão. Segundo as primeiras informações, os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. “A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade”, disse em nota (veja íntegra ao final do texto).
O que se sabe até agora
- Rompimento ocorreu no início da tarde na Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho;
- Mar de lama destruiu casas;
- Dois feridos foram resgatados por helicóptero;
- Hospital da região vai atender apenas vítimas do acidente;
- Corpo de Bombeiros e Defesa Civil municipal e estadual estão no local; dois helicópteros sobrevoam a área;
- Ao menos seis prefeituras emitiram alerta para que população se mantenha longe do leito do Rio Paraopeba, pois o nível pode subir;
- Rodovia estadual que leva a Brumadinho está fechada;
- Por precaução, o Instituto Inhotim está retirando funcionários e visitantes do local.
Ações de emergência
De acordo com a Defesa Civil, os moradores que moram na parte mais baixa da cidade estão sendo retirados das casas. Dois helicópteros estão sobrevoando a região.
A Polícia Rodoviária Estadual informou que a MG-040, entre as cidades de Brumadinho e Mário Campos, está totalmente interditada por causa do rompimento da barragem.
Em Betim, uma equipe da Defesa Civil está às margens do Rio Paraopeba. A intenção é monitorar o nível da água e verificar se há risco de o rio transbordar.
Hospital preparado
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII está sendo preparado para receber os feridos.
Segundo a Fhemig, a emergência do hospital vai atender apenas vítimas do rompimento da barragem. Demais casos serão direcionadas para outras unidades de saúde.
Ainda segundo o órgão, outros hospitais da rede estão se mobilizando para dar retaguarda ao João XXIII.
Autoridades
Uma força-tarefa do governo de Minas Gerais já está no local do rompimento da barragem em Brumadinho. “O governo de Minas Gerais já designou a formação de um gabinete estratégico de crise para acompanhar de perto as ações”, disse por meio de nota (veja íntegra ao final da reportagem).
“Todo aparato estatal está mobilizado e foi deslocado para a região de Brumadinho, onde ocorreu o rompimento, para acompanhar de perto as ações e colaborar no que for preciso. Estão a caminho da Mina do Feijão, o secretário de Meio Ambiente, Germano Vieira, a secretária de Impacto Social, Elizabeth Jucá, além dos Bombeiros e Defesa Civil. Ressaltamos que, neste primeiro momento, a principal preocupação é prestar toda a assistência às vítimas”, diz nota do governo.
O governador Romeu Zema (Novo) vai se pronunciar apenas após ter conhecimento das informações apuradas pelas equipes que estão na região.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) informou que ainda está levantando as informações sobre a barragem. O órgão ainda não sabe dizer se a mina tinha alarme e plano de emergência no local.
Segundo a Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu na tarde desta sexta-feira com o ministro-chefe da pasta, Onyx Lorenzoni, para discutir o rompimento da barragem. Conforme a Casa Civil, o encontro definiu que os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia), Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) foram escalados para acompanhar o caso.
“Todo o governo federal já está mobilizado pra atuar no socorro e na resposta ao rompimento da barragem em Brumadinho. Uma equipe da Defesa Civil Nacional chefiada por mim já está se deslocando para a região para apoiar as operações do estado e dos municípios”, afirmou o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas.
A assessoria do Ministério do Desenvolvimento Regional informou que Alexandre Lucas está saindo de Maceió e irá para o local do acidente. Ele está acompanhado do diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), Armin Augusto Braun. Segundo a assessoria, a equipe da Defesa Civil está em contato com os órgãos de defesa civil do município e do estado de Minas Gerais para avaliar medidas a serem adotadas.
O ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ao jornalista Valdo Cruz, da GloboNews e do G1, que uma equipe de emergência do Ibama já foi deslocada para a região. O ministro também disse que, além do atendimento às possíveis vítimas, a preocupação é com a poluição nos rios da região.
Alerta das prefeituras
Fotos de moradores divulgadas pelo Corpo de Bombeiros mostram a lama. Nas redes sociais, a prefeitura de Brumadinho, Mario Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Betim publicaram alertas para que a população não fique perto do leito Rio Paraopeba.
Vídeo da lama
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o estrago causado pela lama (veja abaixo). “O Feijão acabou com tudo, com restaurante, tava todo mundo almoçando. Acabou com tudo, acabou com tudo, tem nada mais”, diz o autor das imagens.
Tragédia em Mariana
No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billington, deixou 19 mortos e causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais.
A barragem de Fundão abrigava cerca de 56,6 milhões de m³de lama de rejeito. Desse total, 43,7 milhões m³ vazaram. Os rejeitos atingiram os afluentes e o próprio Rio Doce, destruíram distritos e deixaram milhares de moradores da região sem água e sem trabalho.
Vale ainda responde a processo
A Vale se tornou ré uma ação da Justiça Federal em 2016, ao lado da Samarco e da BHP, em uma ação por homicídios e crimes ambientais. Além das 3 empresas, 22 pessoas e a companhia de engenharia VogBR também respondem ao mesmo processo. Até o final de 2018, essa ação seguia correndo na comarca de Ponte Nova, na Zona da Mata, sem que os réus tenham sido julgados.
Parente de vítima de Mariana revive tragédia
A dona de casa Alinne Ferreira Ribeiro, de 36 anos, perdeu o marido, Samuel Vieira Albino, na época com 33 anos, no rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais.
“Eu estou revivendo uma tragédia. Eu acabei sensibilizada (começa a chorar). Não é fácil”, disse, se referindo à tragédia de três anos atrás.
Ainda segundo ela, o poder econômico que as mineradoras têm impede que resoluções mais eficazes sejam tomadas contra as empresas que trabalham sob forte pressão capitalista.
“As pessoas precisam de empregos, mas com segurança. É só mais uma tragédia e a gente lamenta muito. Foi por causa da impunidade. Essa tragédia aconteceu e serão outras até alguém tomar uma atitude”.
Um grupo de parentes mortos em Mariana vai nesta sexta-feira até Brumadinho para ver como está a situação.
Nota da Vale
Veja a íntegra do texto:
“A Vale informa que ocorreu, no início da tarde de hoje, o rompimento de uma barragem na Mina Feijão, em Brumadinho (MG). As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. Ainda não há confirmação se há feridos no local. A Vale acionou o Corpo de Bombeiros e ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens.
A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade.
A companhia vai continuar fornecendo informações assim que confirmadas.”
Nota do governo
“Uma força-tarefa do Estado de Minas Gerais já está no local do rompimento da barragem em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para acompanhar e tomar as primeiras medidas.
O Corpo de Bombeiros por meio do Batalhão de Emergências Ambientais, e a Defesa Civil também já estão no local da ocorrência trabalhando e há dois helicópteros sobrevoando a região.
O Governo de Minas Gerais já designou a formação de um gabinete estratégico de crise para acompanhar de perto as ações. Assim que houver mais informações, o Governo de Minas Gerais emitirá novos comunicado”
FONTE: G1